sábado, 11 de fevereiro de 2012

Dos Impérios aos extremos: as nações em guerra



Por José Lúcio Nascimento Júnior

Nas linhas subseqüentes faremos uma síntese da análise de alguns historiadores sobre a Primeira Guerra mundial, enfatizando as continuidades e rupturas na análise. A escolha da ordem de apresentação dos pesquisadores seguiu apenas a escolha por data de publicação. Iniciaremos com Eric Hobsbawm, seguindo com Márcia Motta, depois Luiz de Araribe e, por fim, Emir Sader. Iniciemos as apresentações.

1.1              Hobsbawm e a Guerra Total
Para analisarmos a Grande Guerra nos textos de Hobsbawm temos que nos concentrar basicamente um dois capítulos, A Guerra total, que se encontra no livro Era dos Extremos, e Da Paz a Guerra, que se encontram em seu livro A era dos Extremos. No segundo texto, o historiador egípcio faz uma análise das causas da guerra, apresentando não a causa próximo ou estopim para a guerra, mas os motivos que estavam gestando o conflito mundial de 1914.

Se a paz foi que predominou no período compreendido entre 1871 a 1914, neste mesmo período já era gestada a guerra. Para sustentar este argumento, Hobsbawm destaca a corrida armamentista empreendida neste período. Cada governo busca ter um armamento melhor que o de seu rival, a indústria de armas além de produzir incentivava os governos a buscarem cada vez mais armas com tecnologia de ponta. Como coloca Eric Hobsbawm, a indústria bélica tinha nos Estados seus principais compradores.

Os governantes dos Estados Nacionais europeus além de buscar armas cada vez mais modernas executavam políticas que incentivavam a formação do nacionalismo. Dois exemplos desse fenômeno para Hobsbawm estariam representados tanto pelo serviço militar quanto pela escola primária. O que o leva a perceber o quanto era complexo para os governantes utilizarem os exércitos nacionais em seus próprios territórios, o que, por sua vê, não excluía a utilização do mesmo.

Outro ponto que este historiador valoriza para a compreensão dos motivos geradores da Primeira Guerra Mundial consiste em perceber a influencia dos conflitos coloniais. Sobre as origens da Grande Guerra Hobsbawm coloca que:

“Portanto, descobrir as origens da Primeira Guerra Mundial não equivale a descobrir “o agressor”. Ele repousa na natureza de uma situação internacional em processo de deteriorização progressiva, que escapava cada vez mais do controle dos governos. Gradualmente a Europa foi se dividindo em blocos opostos de grandes nações. Tais blocos, fora de guerra, eram novos em si mesmo e derivam, essencialmente, do surgimento no cenário europeu de um Império Alemão unificado, constituído entre 1864-1871 por maio da diplomacia e da guerra, à custa dos outros, e procurava se proteger contra seu principal perdedor, a França, através de alianças em tempo de paz, que geraram contra-alianças. As alianças, em si, embora implicassem a possibilidade da guerra, não tornavam nem certa nem mesmo provável. [...] um sistema de blocos de nações só se tornou um perigo para a paz quando as alianças opostas se consolidaram como permanentes, mas especialmente quando as disputas entre eles se transformaram em confrontos inadministraveis (HOBSBAWM: 1998, 431).

Tais alianças são mais bem compreendidas quando levamos em consideração o sistema de equilíbrio de poder que margeava as relações internacionais dos potencias européias. As alianças que se constituíram apenas foram possíveis porque não colocava a plena superioridade de um dos lados, ou seja, não era uma aliança de potencias que seriam imbatíveis. Quando a Inglaterra realiza as alianças com a França e com a Rússia, temos que recordar que a Rússia acabara de perder uma guerra para o Japão e a frança havia perdido o conflito de 1870 para a Alemanha e ambas não tinham condições de disputar o posto de maior potencia européia, coisa que a Alemanha já vinha sinalizando que buscava.

As rivalidades dos países que formavam as alianças não eram apenas por espaços na Europa, mas por espaços globais. Tais rivalidades explicam, por exemplo, a alianças entre países europeus e potencias não-européias, como fica exemplificado nas alianças entre Inglaterra e Japão em 1902. Tal fenômeno de expansão para este historiador relaciona-se ao fato de “se os estados (sic) pudessem definir seus objetivos diplomáticos com precisão tanto o cálculo quanto o acordo seriam possíveis. Mas nenhuma das duas excluía o conflito militar controlado” (HOBSBAWM: 1998, 439). Assim, seria as ações de Guilherme II, novo imperador do II Reich alemão, que nos auxilia a compreender como os conflitos controlados deram lugar a um conflito total.

A rivalidade entre Alemanha e Inglaterra aumentaria quando a primeira nação resolvera ampliar sua esquadra para se colocar como uma grande potência. Tal busca relacionada com os conflitos coloniais que aguçavam os ânimos da diplomacia européia. Assim, quando do assassinato do príncipe austríaco e do apoio incondicional da Alemanha a Áustria, o sistema de alianças dera fruto a um conflito militar generalizado na Europa.

Porém, olhar para a primeira guerra mundial a partir de Hobsbawm é analisar parte do que para ele é um único conflito. Para este historiador as duas Guerras Mundiais, na verdade, são um único conflito. Pois, se os conflitos do século XIX eram medidos em semanas ou meses, a Guerra Total, como este historiador chama o conjunto dos dois conflitos, marca o período das guerras contadas em anos. A guerra total também impressiona, segundo ele, no numero de mortos. A questão era salvar a vida dos soldados nacionais era mais importante que a vida dos habitantes dos outros países. Outra característica deste conflito seria a utilização de diferentes tecnologias para buscar a vitoria no conflito. O desenvolvimento do submarino levou a nova característica de guerra: marta o inimigo de fome.

Um fator relevante em seu texto, a Guerra Total, consiste na análise da das duas frentes de guerra, não apenas a analise da frente ocidental que consiste na marca da maioria dos textos. Porém, a atenção maior esta voltada para Frente Ocidental. Este fator liga-se ao fato de buscar apresentar como as potencias buscavam a vitória total, fazendo que este conflito tivesse um custo humano muito grande. O que levou também a derrotas totais. Segundo Hobsbawm temos que:

“As potencias centrais não apenas admitiram a derrota, mas desmoronaram. A revolução varreu o sudeste e o centro da Europa no outono de 1918, como varrera a Rússia em 1917. Nenhum dos velhos governos ficaram de pé entre as fronteiras da França e o mar do Japão” (HOBSBAWM: 2005, 37).

Para a derrota dos países centrais, contudo, este reconhece que a entrada dos EUA em 1917 foi de fundamental importância, uma vez que a Alemanha venceu a Frente Oriental. Na frente Oriental a Alemanha mantinha destaque; a Rússia estava em posição de defesa e, Sérvia e Romênia não conseguiram segurar o ataque alemão. Após a vitória na Frente Oriental em1917 a Alemanha dedicar-se-ia apenas a Frente Ocidental, onde apenas conheceria a derrota em 1918 após a entrada dos estadunidenses.

A guerra chegaria ao fim com a assinatura do tratado de Versalhes onde a Alemanha seria considerada a responsável pela guerra, mas, como defende Hobsbawm, esta foi guerra não por um país em especial, mas pela situação em que se encontrava a Europa no inicio do século XX.

1.2              Márcia Motta e Grande Guerra
O artigo da historiadora carioca Márcia Maria Mendes Motta, professora da Universidade Federal Fluminense, faz parte de uma coletânea de artigos reunidos nos três volumes da coleção o século XX organizado pelos professores, também da UFF, Daniel Aarão Reis Filho, Jorge Luiz Ferreira e Celeste Zenha. O artigo intitulado A Primeira Grande Guerra (MOTTA: 2000) que está no volume um desta coleção.

Em seu artigo a presente historiadora buscou apresentar uma visão geral sobre o assunto. Para tanto seus argumentos estão embasados em textos (livros) de diferentes autores de diversas nacionalidades, tais como Eric Hobsbawm (que apresentamos sua visão acima), René Remond, Antoine Prost e Gérard Vincent, entre outros.

De acordo com Márcia Motta a Primeira Guerra Mundial seria o conflito de uma guerra imperialista entre quatro países: França, Inglaterra, Rússia e Alemanha. Esta historiadora vai buscar a origem dos conflitos na industrialização que ocorreu nos países europeus ao longo do século XIX. Além disso, no decurso da Belle époque (1870-1914) não podemos esquecer o período de Paz Armada e o sistema de alianças realizadas neste período. Sobre as alianças, destaca que estas acompanhavam os diferentes interesses das nações.

Como fonte do nacionalismo esta historiadora destaca o serviço militar obrigatório. Para ela, a junção história mundial mais nacionalismo gerava a idéia de uma nação forte, o que explica o fato de as nações acreditarem que sairiam vencedoras da guerra em um curto espaço de tempo. Sobre a guerra, ou melhor, sobre o conflito esta historiadora destaca a vitória da Alemanha até a entrada dos EUA em 1917 e a saída Rússia motivada pela revolução outubro de 1917. O fim da guerra se deu com assinatura do armistício em 1918.

Outro ponto alto de seu texto consiste na análise das transformações tecnológicas da indústria bélica e as transformações na sociedade. A saída das mulheres para o mercado de trabalho em decorrência da participação de homens pertencentes à população economicamente ativa. Além da destruição do abastecimento para o inimigo através do afundamento de navios por submarinos.
Sobre a tecnologia de guerra, Márcia Motta destaca a inovação da utilização das trincheiras que de uma solução temporária passou a ser a forma mais utilizada entre 1914 -1918. Sobre as tecnologias destaca também o desenvolvimento e utilização dos carros tanques, do gás e aeronaves. Além disso, a guerra transformava as hierarquias sociais.

Seu texto termina com a análise dos tratados de paz. O primeiro que a historiadora ressalta é o acordo entre Rússia e Alemanha que garantiu a saída da primeira da guerra. Destaca que os estadunidenses tinham buscavam a paz por acordos onde não houvesse vencedores, porém no tratado de Versalhes percebeu0se que os interesses da Inglaterra e da frança foram maior que a vontade dos EUA em garantir a paz sem vencedores.

Por fim, esta historiadora conclui que as conseqüências da primeira guerra foram mais que os acordos de paz. Com esta historiadora destaca “os anos posteriores à Primeira Guerra Mundial iriam mostrar que ela não terminara. As rivalidades continuariam, o desejo de revanche também. A segunda guerra não tardaria a acontecer” (MOTTA: 2000, 251).

1.3              Luiz de Alencar Araripe: uma História Militar da Guerra.
O livro organizado por Demétrio Magnoli, intitulado História das Guerras, tem no artigo do historiador militar Luiz de Alencar Araripe, de nome Primeira Guerra Mundial, a análise do conflito mundial ocorrido entre 1914 -1918 (ARARIPE: s/d). Para Alencar a Primeira Guerra pôs fim ao período conhecido como Belle Époque. Durante o período da belle époque vários acordos foram firmados entre as nações européias. Estes acordos estão ligados a emergência da Alemanha como potência e ameaçando a supremacia da Inglaterra.

Se o conflito é entre potências imperiais, o império Turco-otomano é visto como o “homem doente da Europa”. Seus territórios são cobiçados pelas diferentes potências por serem estratégicos no cenário europeu do inicio do século XX. Além disso, as alianças são de fundamental relevância para se compreender a Primeira Guerra Mundial.

Porém, um ponto alto do texto é a análise da relação entre a industrialização, ou melhor, os avanços tecnológicos da industrialização com as relações características da guerra no século XX. Este destaca o surgimento de diferentes tecnologias para auxiliar os planos de guerra. Dentro das inovações tecnológicas o autor ressalta a construção de planos para garantir a vitória rápida na batalha, tal como o plano desenvolvido pelos alemães para derrotar rápido seus oponentes. Este era o plano Schlieffen.

Sobre o contexto da guerra, Araripe destaca que houve dois teatros de guerra. O teatro (ou frente) Ocidental e a Oriental. Este ressalta que a frente ocidental que ele vai analisar com mais atenção, mesmo correndo o risco de ter um texto “afrancesado”. A batalha na frente ocidental pode ser dividida, em sua visão, em dois momentos: a fase de movimento, e as Guerras de posição e batalha final.

Para a primeira fase este destaca as vitórias da Alemanha e a resistência de seus oponentes. A não invasão de Paris como previa o plano Schlieffen pois fim ao mesmo e ao fim da primeira fase. Assim como o fato de a frança utilizar de forma melhor a propaganda, seja a seu favor, seja contra os alemães. Já os alemães que eram bons militares eram péssimos propagandistas.

Na segunda fase, as trincheiras foram às principais características. As trincheiras tinham duas funções a de patrulhar e obter informações, e de incursão em território inimigo.
A modernização dos navios ingleses (passagem do carvão ao petróleo) foi retardada pela de fonte de petróleo. A escassez que contribuiu para que a Grã-Bretanha, em 1913 assinou um tratado com a Pérsia e em 1916 invadisse a Mesopotâmia em busca de petróleo. A segunda fase conhece seu fim com os acordos de 1918 a 1919. Os acordos entre Rússia e Alemanha de 1918; e o tratado de Versalhes de 1919.

Por fim, podemos observar que os diferentes historiadores ao analisar o mesmo fato destacam fatores e eventos diferentes para construir sua interpretação. Tal fenômeno nos mostra que o conhecimento histórico é complexo, sendo necessário observar diferentes matrizes teóricas para a melhor compreensão de algum evento histórico.

Bibliografia
ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. in.: MAGNOLI, Demétrio. Histórias das Guerras. p. 319-354.
BURKE, Peter. A Escrita da História. SP: UNESP, 2002.
HOBSBAWM, Eric John. Era dos Extremos: O breve século XX (1914 – 1991). SP: Companhia das Letras, 2005.
_________. Era das revoluções (1780 – 1848) RJ: Paz e Terra.
_________. Era dos Capitais (1848 – 1875) RJ: Paz e Terra.
_________. Era dos Impérios (1875-1914) RJ: Paz e Terra, 1998
_________. Nações e nacionalismo desde 1780. RJ: Paz e Terra.
_________. Sobre História. SP: Companhia das Letras, 2002
MOTTA, Márcia Maria Mendes. A primeira Grande Guerra. in: REIS FILHO, Daniel Aarão; FERREIRA, Jorge Luiz; e ZENHA, Celeste (orgs.) O século XX: da formação do capitalismo à primeira grande guerra.RJ: Civilização Brasileira, 2000, p. 231-251.

História do Tempo Presente: algumas questões sobre o início do século XX

Por José Lúcio Nascimento Júnior


É fácil de imaginar: tantos crimes e horrores foram cometidos durante as guerras que essas facetas da história guardam muitos tabus. Estes, no entanto, não se escondem necessariamente onde são procurados.
(Marc Ferro. Os tabus da História)
                                           
São com estas palavras que o historiador francês Marc Ferro inicia seu capítulo sobre os tabus das guerras mundiais, em seu livro Os tabus da História (FERRO, 2003). As guerras mundiais foram e ainda são temas que demandam inúmeras pesquisas em todo o mundo, desde que tais eventos terminaram. Tais produções tiveram diferentes características ao longo do tempo, seja por causa de novas fontes encontradas, seja motivada pelas transformações na historiografia.

As duas guerras mundiais transformaram o modo de vida da população européia assim como são marcos referenciais para múltiplos estudos de diferentes espaços sociais. Estes conflitos mundiais da primeira metade do século XX também expõem outra questão para o historiador do tempo presente ou da História Contemporânea: Quando teria se iniciado o século XX?


Tal resposta pode ser dada de diferentes maneiras, sendo escolhidos diferentes fatos ou marcos cronológicos. No entanto, duas visões para este início de século se apresentam como relevantes. Estes são os estudos sobre o século XX realizados pelo historiador Eric John Hobsbawm (2005) e pelo filósofo e cientista político Emir Sader (2000). Cada um dos estudiosos apresenta uma visão para o início do século.

Para Sader o fim do século XIX tem como marco referencial a morte da rainha Vitória, rainha da Inglaterra, maior potencia de tal século. Porém, ao contrário do historiador Eric Hobsbawm, Emir Sader percebe como marco histórico para o início do século não o conflito mundial de 1914, pois para este temos que:

“A limitação do século [XX] ao período de 1914-91, como faz Hobsbawm, tem a vantagem de destacar mais precisamente o espaço de tempo em que a oposição EUA/URSS personificou o enfrentamento capitalismo/socialismo. Mas tempo como desvantagem de reduzir a dimensão dessa polarização, que transcende a forma política especifica que assumiu o socialismo (‘socialismo soviético’) e facilita as formulações liberais que buscavam naturalizar o capitalismo a partir da última década do século XX” (SADER: 2000, 10).

Assim, o século XX, para Sader inicia-se com as disputas imperialistas no limiar do século XX. Como ponto de partida destaca a Guerra dos Boxes na China e dos Bôeres na África do Sul. Tais eventos destacam o conflito de interesses das potências imperialistas. O final do século XIX e início do século XX, para este cientista político ligam-se ao fim da hegemonia britânica, que rendeu ao século XIX um período conhecido como Pax Britânica.

Além disso, para Emir Sader o século XX é o século do Imperialismo. Para tanto este se vale da análise de Lênin, em Imperialismo: fase superior do capitalismo, para observar este início de século. De acordo com Lênin o imperialismo tem como características:

1)                 “Concentração da produção e do capital atingindo um grau de desenvolvimento tão elevado que origina monopólios, cujo papel é decorativo na vida econômica;
2)                 Fusão do capital bancário com o industrial, e a criação, com base nesse ‘capital financeiro’, de uma oligarquia financeira;
3)                 Diferentemente das exportações de mercadorias, a exportação de capitais assume uma importância muito particular;
4)                 Formação de uniões internacionais monopolistas de capitais que partilham o mundo entre si;
5)                 E, termo da partilha territorial do globo entre as maiores potências capitalistas” (LENIN. Apud. SADER: 2000, 28).

A partir daí, Sader busca demonstrar que este século é marcado pelas disputas entre as potências imperialistas.

O historiador Eric John Hobsbawm produziu uma série de quarto livros, onde este busca analisar a história contemporânea. Nesta coletânea, Hobsbawm buscar analisar as linhas gera que conduz a história ocidental, em especial a história européia, do final do século XVIII ao final do século XX. No último livro da série, em Era dos Extremos, este historiador egípcio radicado em Londres, utiliza como marco inicial para século XX a Grande Guerra, pois, como defende no terceiro livro da série, intitulado Era dos Impérios, o período que vai da unificação alemã até o início da primeira guerra mundial é marcado por uma paz em solo europeu (HOBSBAWM: 1998; HOBSBAWM, 2005). Os conflitos que Sader coloca como marco para o início do século XX, para Hobsbawm compõem, na verdade, a busca pela ampliação dos Impérios europeus e não europeus já existentes (como o francês ou britânico) ou que se formaram no século XIX (como é o caso da Alemanha, que uma vez unificada em 1871, Bismarck conclama o II Reich, apenas para exemplificar).

Assim rechaçamos a idéia de Sader de que o século XX teria como seu marco inicial os conflitos na China e na África do Sul e, assim, como Hobsbawm, percebemos o início do século XX com o advento da Grande Guerra em 1914.

Por fim, a história do Tempo Presente, como bem coloca a historiografia que se dedica ao estudo epistemológico e a escrita dos trabalhos históricos, tem suas fronteiras móveis. Uma vez que os anos passam, o marco inicial se modifica para delimitar onde começaria este campo de análise, que para alguns se confunde com a história contemporânea.

Bibliografia
BURKE, Peter. A escrita da História. SP: UNESP, 2002.
FERRO, Marc. Os tabus da História. A face oculta dos acontecimentos que mudaram o mundo. RJ: Ediouro, 2003.
HOBSBAWM, Eric John. Era dos Extremos: O breve século XX (1914 – 1991). SP: Companhia das Letras, 2005.
_________. Era dos Impérios (1875-1914) RJ: Paz e Terra, 1998
_________. Sobre História. SP: Companhia das Letras, 2002
HUNT, Lynn. A nova História Cultural. SP: Martins Fontes.
SADER, Emir. Século XX: uma biografia não autorizada (O século do Imperialismo). SP: Fundação Perseu Abramo, 2000